A Repercussão do Divórcio dos Pais para a Criança
- Silvia Helena
- 20 de dez. de 2024
- 3 min de leitura

O divórcio dos pais é um evento que pode gerar profundas repercussões emocionais e comportamentais nas crianças. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) oferece uma compreensão valiosa de como esse processo pode afetar a forma como as crianças percebem a si mesmas, os outros e o mundo ao seu redor.
O impacto do divórcio nas crianças pode variar de acordo com vários fatores, como a idade da criança, a qualidade do relacionamento anterior dos pais, a maneira como a separação é conduzida e a rede de apoio disponível. No entanto, é possível observar alguns padrões comuns no processo de adaptação emocional e cognitiva das crianças.
Alterações na percepção de si mesmas: Crianças em processo de divórcio frequentemente passam a se questionar sobre seu valor e sua culpa pela separação. Muitos pensam, de forma irracional, que de alguma forma poderiam ter feito algo para evitar a ruptura dos pais. Isso é um reflexo de distorções cognitivas típicas da infância, como a personalização, que pode levar a sentimentos de culpa e responsabilidade excessiva pela separação.
Ansiedade e insegurança: A instabilidade emocional resultante do divórcio pode gerar um aumento na ansiedade das crianças. Elas podem se preocupar com a perda do contato com um dos pais, temer a mudança de residência ou ter dificuldades em aceitar a nova estrutura familiar. A percepção de que o futuro é incerto pode contribuir para sentimentos de insegurança e medo, levando a comportamentos de dependência ou a dificuldades em desenvolver autonomia.
Distorções cognitivas: Na TCC, trabalhamos com a ideia de que nossas emoções e comportamentos estão frequentemente ligados a formas distorcidas de pensar. No contexto do divórcio, é comum que as crianças apresentem crenças automáticas, como: “meus pais não me amam mais” ou “eu não sou bom o suficiente”. Essas distorções podem afetar a autoestima e levar a um comportamento mais retraído ou agressivo, dependendo da interpretação emocional que a criança faz da situação.
Comportamentos de regresso: Algumas crianças podem exibir comportamentos típicos de idades mais precoces após o divórcio, como enurese (urinar na cama), medo excessivo de ficar sozinhas, ou até mesmo recusa em ir à escola. Esses comportamentos são manifestações de uma necessidade de regresso à segurança emocional anterior e podem ser compreendidos como um mecanismo de enfrentamento frente à instabilidade.
Problemas acadêmicos e sociais: A instabilidade emocional pode afetar a concentração e o rendimento escolar da criança, além de interferir na maneira como ela se relaciona com amigos e colegas. O estresse e a ansiedade causados pela separação dos pais podem prejudicar a capacidade de se envolver em atividades sociais ou de manter bons vínculos com outras crianças.
A Terapia Cognitivo-Comportamental se apresenta como uma ferramenta eficaz para ajudar as crianças a lidarem com os efeitos do divórcio. Ela se baseia na identificação e reestruturação de padrões de pensamento distorcidos, ensinando a criança a interpretar de maneira mais realista e adaptativa as situações que vivencia.
Além da intervenção terapêutica, é essencial que o ambiente familiar e escolar seja um suporte positivo e acolhedor durante esse período de transição. Os pais, mesmo separados, devem tentar manter uma comunicação saudável e consistente com a criança, reforçando o amor e a segurança emocional. O apoio dos professores também é fundamental, pois podem observar sinais de dificuldades emocionais e acadêmicas e ajudar a criança a lidar com o estresse de forma construtiva.
É importante lembrar que cada criança é única e reagirá de forma diferente ao divórcio, por isso o apoio deve ser individualizado e sensível às suas necessidades específicas. Com compreensão e acompanhamento, é possível ajudar a criança a seguir em frente de maneira mais saudável e equilibrada.
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