Por Que (Não) Fazer Psicoterapia?
- Silvia Helena
- 8 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 31 de mar.

Resolvi escrever um pouco sobre os motivos pelos quais as pessoas fazem psicoterapia. E pensando sobre isso, talvez porque eu esteja contaminada por minhas convicções dos benefícios que podem ser alcançados através do processo psicoterápico, a pergunta mais coerente, para mim, seria “Por que NÃO fazer psicoterapia?”. O motivo pelo qual, imagino eu, algumas pessoas não se sentiriam candidatas à psicoterapia ou confortáveis num processo do tipo seria o de que, para muitos, isso ainda é “coisa pra louco”. Isso mesmo! A Psicologia tem mais de 60 anos no Brasil, mas, ainda, existem pessoas que atribuem o trabalho do psicólogo a um lidar diário com loucos.
Se formos pensar em loucos, temos um universo bem abrangente. Desde os loucos que precisam ser controlados, pois, se não o forem, podem colocar as pessoas com quem convivem em risco, por não terem um raciocínio coerente, censura, pudor, etc. E também existem as pequenas loucuras do dia-a-dia. Quais são? As “manias incontroláveis” – as compulsões, os pensamentos de auto sabotagem, os sentimentos de auto depreciação que destroem a autoestima, a rigidez no pensar e agir, a insegurança que limita o agir, os traumas escravizadores, a necessidade de controle de tudo e de todos... e por aí vai, uma lista gigante de sentimentos, sensações, pensamentos, hábitos, que também são “loucuras” porque colocam nosso emocional em estado de vulnerabilidade. Qual a porcentagem da população acometida por estas pequenas loucuras diárias? Sem medo de errar: 100%.
Ainda um pouco com relação aos enganos que se tem acerca do trabalho do psicólogo clínico: o profissional da Psicologia não fica apenas ouvindo problemas e dizendo o que se deve ou não se deve fazer. Aliás, se existe alguém fazendo isso e que tenha a coragem de se nomear “psicólogo”, por gentileza me avisem!
Mas o que faz, então, o psicólogo afinal?
O psicólogo de verdade tem uma vasta bagagem de técnicas, de acordo com a abordagem que norteia seu trabalho, pra auxiliar o seu cliente a encontrar caminhos para resolução de suas questões, minimizando (não excluindo, pois isso é impossível) os sofrimentos. Através da escuta terapêutica, que fundamentalmente se baseia na neutralidade, e nas intervenções terapêuticas que, como eu já disse, estão apoiadas em técnicas e conhecimento do ser humano, vários sentimentos confusos podem ser reorganizados, pensamentos disfuncionais e equivocados podem ser esclarecidos e a pessoa em foco pode se sentir mais “dona de si”, ou seja, mais confiante de que tem as rédeas da própria vida.
Creio que, em um mundo onde as pessoas estão, ao mesmo tempo, extremamente centradas em si mesmas e totalmente perdidas de si, o local da psicoterapia seja sagrado. Diante de tamanho individualismo dos dias de hoje, dificilmente se encontra espaço para ser verdadeiramente ouvido e aceito. Se você consegue ser ouvido, provavelmente será julgado; se você foi aceito, provavelmente não foi plenamente ouvido. E é assim que é.
Existe hora certa para procurar psicoterapia? Sim e não. Pode ser que, ao vivenciar um conflito tremendamente difícil, um trauma, uma perda, uma ruptura, a pessoa se sinta abalada e mais predisposta a procurar ajuda. E essa predisposição é de uma importância imensurável, ou seja, não adianta outra pessoa querer que você faça psicoterapia – VOCÊ tem que querer. Afinal o psicólogo não tem bola de cristal e, sem disponibilidade do cliente, não consegue acessar e entender o mundo interno do mesmo. E também existe a possibilidade de que, mesmo sem estar passando por crises quaisquer, a pessoa encontre dentro de si um espaço confuso que deseja explorar.
Espero ter podido desmistificar um pouco o significado da psicoterapia o dos motivos que levam as pessoas a procura-la. E que possam ser extintos a vergonha e o preconceito que ainda fazem com que muitos sofram calados quando existem tantos meios de promover saúde emocional, auto conhecimento e satisfação pela vida e por quem se é!
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