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Entre Lágrimas e Abraços: Desvendando o Baby Blues e a Depressão Pós-Parto

  • Foto do escritor: Silvia Helena
    Silvia Helena
  • 10 de out. de 2024
  • 3 min de leitura


Hoje escrevo para as mães de verdade, mães reais. Falo com mulheres que vivem desastradamente a experiência da maternidade e também com aquelas que, na tentativa da vivência perfeita, também tropeçam e se acidentam.


Antes de ser mãe, mesmo considerando-me uma pessoa relativamente bastante esclarecida, a ilusão que me habitava era a da maternidade perfeita. Aqueles bebês lindos e tranquilos das propagandas de fraldas noturnas eram meu ideal, plenamente atingível, quase que geral. Embora saibamos que bebês choram, têm cólicas, que educar e auxiliar um ser humano no processo de aquisição de habilidades para o mundo não é fácil, parece que quando desenvolvemos o senso de maternidade dentro de nós ignoramos todos esses fatos. É como se houvesse, dentro das candidatas à maternidade, um mecanismo de defesa de negação, que insiste no sentido de que “com você será diferente”.


Como psicóloga, minha experiência no consultório às vezes confrontava esse ideal social da maternidade: mãezinhas deprimidas, insatisfeitas, até mesmo arrependidas. E, embora minha conduta profissional impere no sentido da neutralidade, muitas vezes não pude deixar de pensar o quanto aquelas mulheres estavam sendo desumanas, cruéis com seus pequenos, desnaturadas como mães, indignas do seu papel. Isso porque existe um pensamento construído e fortemente enraizado na maioria das mulheres de que mãe é sinônimo de amor perfeito e inabalável desde sempre.

           

Então aconteceu comigo.


Não pude imaginar que, tendo um "projeto maternidade" tão bem elaborado e desenhado, financeira e emocionalmente falando, e sendo uma pessoa tão "equilibrada", amparada pela tal Psicologia, eu poderia me tornar vulnerável ao sentimento inconcebível de rejeição pelo meu próprio bebê!


Sim, aconteceu!


E passou da hora das pessoas falarem sobre essas sensações mais abertamente, sem frescura e, principalmente, sem censura.


O "baby blues" é um sentimento bastante comum na puérpera, pouco comentado, porém mais corriqueiro do que a Depressão Pós-Parto propriamente dita. Não deve ser, entretanto, ignorado, nem tampouco a mãezinha deve se sentir estranha ou despreparada. Quem é plenamente preparado pra cuidar de alguém que não conhece? Ninguém! Ocorre uma melancolia, um desânimo, uma alteração no humor, em muito decorrente, principalmente, do cansaço dos primeiros dias de cuidados com o bebê. As noites mal dormidas, a impossibilidade de se olhar, se cuidar, muitas vezes certo abalo na intimidade e um distanciamento do casal, culminam em sentimentos de tristeza e muitas vezes de arrependimento. Um pensamento bastante comum: "O que eu fui arrumar para a minha cabeça? Minha vida estava tão tranquila...". Pensamento, apenas! Impensável verbalizá-lo?! E hoje, tendo podido experimentar o outro lado da história, penso o quanto faz falta simplesmente poder compartilhar seus sentimentos com alguém.


Conforme o bebezinho vai crescendo e a rotina da família vai se estabilizando, essa tristeza tende a passar e dar espaço para uma alegria sem tamanho e para o aprendizado do que é o amor. Sim, o amor materno também é construído, aprendido. Hoje meu filho tem 13 anos e sei que meu amor por ele também é fruto desse processo todo, desse período de caos. Aliás, as crises são o que movimentam os seres humanos no sentido da mudança e do aprimoramento. Talvez, vivenciar aquelas sensações desagradáveis, possam ter servido para que várias reflexões pudessem ser feitas, inclusive no sentido do ser mãe, mulher, esposa, profissional, enfim, todos os papéis dos quais as mãe não precisam (e não devem) abrir mão.


Já a Depressão Pós-Parto, estado que se prolonga por mais tempo do que o baby blues e/ou com maior intensidade é uma doença cujo desequilíbrio químico/hormonal ocorre em demasia, levando a puérpera a sentimentos mais hostis e de rejeição pelo pequenino. Em um grau mais grave, pode levar a mamãe a alucinações e a atos impulsivos e até agressivos para com seu bebê. Essa mulher não pode ser julgada, ela tem que ser ajudada. É necessário muito apoio, compreensão e respeito por parte de família e de quem mais a cerca, para que essa negatividade seja superada e possa ser construída uma relação de amor genuíno entre mãe e bebê. E sim, por mais difícil que possa parecer passar por esse momento, por mais intransponível que essa dificuldade pareça ser, com carinho e cuidado tudo pode ser revertido. A maioria das mamães que chegam a pensar em ferir ou se livrar do seu bebê não o fazem. Mas os pensamentos têm que ser relatados, divididos e, assim, certamente, amenizados.


Vai restar a culpa, cujo tempo há de se encarregar de elaborar. Afinal, somos humanos, somos sentidos e sentimentos, somos impuros e imperfeitos.


Mães imperfeitas, quem foi e teve coragem de prosseguir? Quem é, e tem coragem de assumir?

 
 
 

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